Desemprego público
Maio 28, 2009
Há dias Vital Moreira acusou o PSD de ser reaccionário por criticar o investimento público. Parece que para o cabeça de lista dos socialistas as obras públicas são uma excelente forma de criar emprego. Infelizmente, inventar empregos não é assim tão fácil ou o Eng. Sócrates já teria cumprido a sua promessa dos ditos 150 mil postos de trabalho. Para aumentar a nossa desgraça, o investimento directo do Estado em obras públicas até acaba por ser uma das causas do desemprego, principalmente em momentos de crise.
Quando o Estado decide avançar com uma obra pública, uma ponte, estrada, o que seja, precisa de se financiar. Fá-lo de variadíssimas maneiras: Ora recorre aos impostos pagos pelos contribuintes, ora à emissão de títulos de dívida pública, ora se dirige às instituições bancárias, muitas vezes em parceria com os privados que, por mais tarde não receberem os lucros esperados serão substituídos pelas entidades públicas no pagamento dos juros bancários. Se opta por esta última solução, o banco que escolhido adquire uma posição de força perante os restantes clientes: A partir do momento em que tem o Estado como cliente (que não irá à falência e pagará mais tarde ou mais cedo) as condições que irá impor aos clientes privados nos seus inúmeros projectos particulares serão mais pesadas. Esta situação é mais complicada nos momentos de crise. Nestas alturas, os bancos, que têm muitas dúvidas na concessão de crédito às entidades privadas, vêem no pedido de financiamento do Estado, a sua âncora de salvação. Agora, podem pedir o que quiserem, subir o custo do dinheiro concedido à empresas e particulares, dificultando-lhes ainda mais o acesso ao crédito, pois já cumpriram os mínimos exigíveis para os tempos de crise.
O resultado é precisamente o oposto ao pretendido quando o governo incentiva os bancos a facilitar o crédito às empresas e ao desejado, pelos bancos centrais, com a sucessivas descidas das taxas de juros. Com menos crédito, aqueles que criam verdadeiramente emprego, as empresas grandes, médias, pequenas e micro, os empresários em nome individual, que são às centenas de milhar em Portugal, não podem investir, não podem contratar mais trabalhadores. Pior: Talvez não consigam manter os compromissos anteriormente assumidos para com os seus empregados num tempo de crescimento económico. Provavelmente, terão de os despedir. O desemprego aumenta.
O Estado também cria desemprego quando se financia com os impostos, usando os fundos de quem, em vez de contratar novos funcionários, vê os seu dinheiro dirigir-se para obras de carácter duvidoso e cujos benefícios pode nunca chegar a receber. Uma vez mais, o Estado dá um tiro no pé e atinge resultados totalmente contrários aos pretendidos.
Há um problema no raciocínio apresentado neste ‘post’ oposto aos prontos benefícios do investimento público. Como é natural, qualquer obra cria emprego imediato e directo. Algo visível por qualquer cidadão. Ora, os estragos que esse mesmo investimento público provoca são invisíveis e indirectos. Não se vislumbram e a maioria das vezes não têm relação directa com a obra pública. Na verdade, a empresa que precisava urgentemente do crédito que lhe foi recusado pelo banco (que assume uma posição de força porque está a financiar o Estado numa obra em Lisboa) e que em virtude dessa recusa terá de despedir trabalhadores, pode estar em Bragança, em Viseu ou até mesmo em Beja. O empresário em nome individual que não pode expandir o seu negócio e contratar quem o ajude, porque o imposto é demasiado alto para os seus rendimentos pode viver no Porto ou em Faro. O desemprego que resulta do investimento público é disseminado e anda escondido.
Apenas a coragem e o seu desapego pelo poder explicam a posição de Manuela Ferreira Leite, nesta matéria. Apenas o interesse eleitoral nos clarifica qualquer dúvida que tenhamos relativamente à linha político-económica dos socialistas. Pela minha parte, não terei muitas dúvidas na escolha.