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Papa Myzena

As boas escolhas de Sócrates: Vital na senda de Soares

Junho 01, 2009

Ao contrário das opiniões que se lêem por aí, a escolha de Vital Moreira, essa tragédia política de baixo nível, não me espantou minimamente vinda de José Sócrates. Claro que foi um erro, mas desde quando os erros de Sócrates são surpresa? José Sócrates, convém lembrar, não ganhou as últimas legislativas: foi Pedro Santana Lopes que as perdeu. Sócrates esteve no lugar certo no momento certo (para ele, não para o seu desgraçado país). E, coisa inédita, depois de ganhar com maioria absoluta prepara-se para perder as legislativas (o que preferimos) ou a maioria absoluta, sinais claros de que não agradou.

 

Depois de ganhar eleições por sorte, Sócrates falhou em tudo. Todas as 'reformas' que tentou (cof, cof) ficaram no papel ou no corredores dos ministérios. O único sucesso aparente - a redução do défice orçamental - foi uma tragédia nacional: a despesa pública (dentro da qual a despesa corrente) cresceu todos os anos de governo Sócrates acima da inflação e só se conseguiu reduzir défice através de um brutal aumento da carga fiscal nestes anos - isto sim, uma verdadeira roubalheira. Em suma, não houve nada de semelhante a consolidação orçamental.

 

Politicamente Sócrates gozou de uma comunicação social que, após ter ferozmente combatido PSL e favorecido o PS em 2005, além da usual bonomia com que trata tudo o que venha da esquerda, tinha também a provar que em 2005 havia estado do lado certo da barricada. Resultado: durante anos se assobiou para o lado, Sócrates passou por reformista, a consolidação orçamental parecia um facto evidente, a boçalidade dos ministros era apresentada como saudável combatividade, aceitava-se a incompetência generalizada do governo. E o que exultaram os jornalistas com a escolha - e oh que boa escolha - de Soares para as presidenciais. Soares, diziam, não iria deixar que Cavaco tivesse um voto à esquerda; Soares iria ser o candidato de toda a esquerda; Soares, enfim, substituíu Dom Sebastião nos sonhos dos nossos jornalistas. Viu-se.

 

E esta não foi uma escolha com duplo sentido de Sócrates; não, ele acreditou mesmo que os portugueses iriam engolir Soares. Tal como previu que engoliriam Vital Moreira, um candidato que ninguém conhecia (fora dos leitores do Público e da blogosfera), convencido de qualidades que não tem e com aquele desrespeito básico (tão caro à esquerda) por todas as pessoas de direita ou que rotulam de direita. Um renegado da esquerda de quem a esquerda não gosta e de quem a direita desconfia pelo passado de esquerda. E, como se viu, senhor de uma inabilidade política pouco comum e perfeitamente capaz de dizer mentiras rasteiras sobre os seus adversários.

 

Sócrates, apesar dos falhanços, está tão convencido dos méritos próprios, é tão arrogante, que acredita que qualquer coisa ou alguém por ele proposto é aceite. No fundo, Sócrates acha-nos uns tolos e já se sabe como estes se enganam com papas e bolos. Soares e Vital resultaram disto: Sócrates não nos acha merecedores de se dar ao trabalho de escolher candidatos (ou ministros) adequados e com qualidades. Não, estamos todos demasiado encadeados com a luz que irradia da suprema competência que emana do incrível Sócrates para vislumbrar os defeitos das suas escolhas.

 

Resta-nos provar que não estamos encadeados e que não somos tolos.

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