Algo decente
Junho 02, 2009
Dizia-se por aí que o PSD era o partido que mais ia gastar com as campanhas eleitorais deste ano. Que engano: quem mais gastou, de muito longe, foi o PS. Ao comprar um buraco financeiro de dois mil milhões de euros (sim, são mesmo seis nove zeros) com o dinheiro dos contribuintes, o Governo socialista apossou-se de uma reserva estratégica de lama com que pretende aspergir a oposição no tempo e no modo que escolher. É a campanha eleitoral mais cara de sempre.
Que lhes importa que o seu próprio líder esteja enterrado até ao pescoço no lodo de Alcochete, contaminado com escorrências beirãs? Que lhes importa que a lama do BPN nada tenha a ver com a liderança actual do PSD? Que lhes importa que o lamaçal só contribua para emporcalhar as instituições democráticas e agoniar os portugueses? Desde que dê alguma vantagem no curto prazo, tudo bem. Eleições ganhas, logo se verá, não é verdade?
Não é verdade, não pode ser verdade, não podemos deixar que seja verdade. Hoje há em Portugal uma clivagem moral, não entre Sócrates e Ferreira Leite, não entre governo e oposição, mas entre o PS e o País. O País tem de prevalecer sobre um PS que desmereceu da sua história. O País tem que afastar quem não revela qualquer escrúpulo para atingir os seus fins. E o País tem à sua disposição os instrumentos democráticos para o fazer.
O PSD será o instrumento do País nesta tarefa, não porque seja perfeito - a perfeição em democracia é uma miragem - mas porque é o único que está à mão. Também por isso, terá de mostrar muita humildade na hora de assumir as responsabilidades da governação. Será uma ideia nova em Portugal: um governo humilde, à escuta, sem medo de decidir mas que sabe que não é dono da verdade – condição essencial para se fazer uma política de verdade e com verdade.
Talvez pareça pouco, e de certa forma é pouco, face à dimensão dos desafios com que nos confrontamos. Mas se o PSD afastar o Governo mais tóxico que a democracia portuguesa jamais conheceu e o substituir por algo decente, já terá valido a pena votar.